As vertentes do feminismo na era digital
- Equipe Labrys
- 2 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2018
Entenda o que é o movimento e quais são as principais correntes de pensamento que o compõe.

Após séculos sofrendo com desigualdade, violência, abuso – psicológico, físico e sexual - e assédio, as mulheres se empenharam em encontrar formas de amenizar essa situação com o intuito de reverter a subalternidade. Com isso, passaram a chamar de feminismo o movimento de organização de mulheres lutando por condições dignas de existência.
A revista QG Feminista, ressalta, em sua explicação sobre o feminismo, que existem dois pré-requisitos importantes para ser feminista: em primeiro lugar, é preciso reconhecer que as mulheres estão em situação desprivilegiada na sociedade. Em segundo, deve-se entender que o feminismo é um movimento político-social que luta justamente para combater as diversas situações de opressão e subalternidade em que se encontra o sexo feminino. Enquanto isso, a Youtuber “Lully de Verdade”, com quase 400 mil inscritos, aponta para os 5 indícios de que você é Feminista em seu canal.
Se você participa de discussões sobre o movimento feminista na internet contemporânea, é provável que tenha escutado falar em várias “vertentes” feministas. As vertentes podem ser definidas como correntes de pensamento teórico que buscam explicar a questão da mulher na sociedade. Atualmente, as principais correntes teóricas de pensamento feminista são: o feminismo liberal, feminismo radical, feminismo interseccional e feminismo negro. A youtuber Victoria Ferreira, explica em vídeo, as principais diferenças e semelhanças das vertentes.
Feminismo Liberal
O feminismo liberal busca livremente a equidade do gênero feminino com o masculino, assim como defende que a mulher é um ser capaz de expressar suas escolhas e capacidades. O libfem, como é chamado popularmente, é a única vertente que não problematiza o contexto capitalista da sociedade, lutando pela inserção da mulher na lógica do capital. Diferentemente do feminismo radical, o liberal acredita que a raiz do machismo está nas leis, e para as seguidoras do movimento, bastaria alterar as leis que sustentam o machismo para que o mesmo deixasse de acontecer na sociedade. Portanto, as feministas liberais costumam lutar pelo empoderamento individual e pela libertação sexual da mulher.
No Brasil, entre as influenciadoras feministas emergentes, destaca-se Júlia Tolezano, de 25 anos, conhecida na internet como Jout Jout, por conta do nome de seu canal. Apesar de nunca ter declarado ser adepta ao libfem, Jout Jout é considerada importante para a vertente por falar em vídeos descontraídos sobre assuntos como a libertação do corpo feminino e o empoderamento, pautas tratadas com frequência pelo feminismo liberal.
Vale ressaltar que essa vertente, sendo muito criticada em redes sociais, é o que se multiplica nas mídias de maior alcance, como a televisão e Youtube. Um exemplo concreto é o programa Amor & Sexo, exibido na Globo e criticado por feministas radicais, por conta de seu caráter liberal e por apoiar a legalização da prostituição.

Feminismo Radical
Resumidamente, o feminismo radical defende a libertação da mulher de todas as formas de opressão, que só poderia ocorrer, na visão dessa vertente, a partir da desconstrução de gênero. É importante ressaltar que o feminismo radical é contra a pornografia e a prostituição, por acreditar que ambas são formas de comprar, explorar e dominar o corpo feminino. Essa vertente também problematiza alguns aspectos da moda e do uso da maquiagem pelas mulheres, ao contrário do feminismo liberal, que enxerga as duas como forma de empoderamento.
Pode-se dizer que a Youtuber Carol Wojtyla, do canal “Fêmea Humana”, adepta ao feminismo radical, é uma figura feminista que gera muitas controvérsias nas redes sociais. Porém, sua grande contribuição para essa vertente é a tradução e publicação de vídeos de feministas estrangeiras, como Magdalen Berns, youtuber famosa por seu posicionamento radical, a favor das lésbicas e contra o transativismo e a pornografia.

Feminismo Interseccional
O feminismo interseccional, também contrário ao liberal, é a corrente que procura a intersecção entre os vários tipos de opressão, como opressão de gênero, de raça e de classe social. Por isso, as feministas interseccionais acreditam ser essencial que as feministas brancas, por exemplo, saibam sobre o que as mulheres negras e trans estão discutindo dentro do movimento. “A visão de que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Padrões culturais de opressão não só estão interligados, mas também estão unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade” explica Kimberlé Crenshaw, fundadora do termo interseccional em seu livro, em 1989.
Além do feminismo liberal, o interseccional é a vertente mais receptiva com homens, buscando encontrar a diferença entre as mulheres e adaptar-se a elas. Além disso, essa vertente entende que a opressão pode acontecer entre mulheres, inclusive dentro do movimento feminista.

Feminismo Negro
O feminismo negro é um segmento feminista protagonizado por mulheres negras, que possuem o objetivo de promover e trazer visibilidade às suas pautas, assim como reivindicar seus direitos. Essa corrente reconhece que mulheres brancas possuem um privilégio na sociedade, enquanto as mulheres negras passam por uma maior quantidade de opressão e violência por conta de sua raça e gênero. A especifidade desta vertente, se deve ao fato de que as feministas negras entendem que seu corpo está duplamente objetificado e sexualizado na sociedade, por causa da imagem de “mulata exportação” que foi construída ao longo de séculos e que atribuiu à mulher negra a imagem de fêmea sempre à disposição dos homens.
Dentro do feminismo negro, geralmente associado ao feminismo interseccional, uma grande expoente no YouTube é a estudante Nátaly Neri, de 22 anos, dona do canal “Afro e Afins”. A jovem trata diretamente sobre questões e problemas que cercam a mulher negra, como afetividade e autoestima. Seus vídeos trazem um misto de referências teóricas do campo das ciências sociais, e relatos de cunho pessoal sobre suas dificuldades e vivências enquanto mulher negra e feminista. Nátaly também é bastante conhecida por sua palestra no TEDx, “A mulata que nunca chegou”, na qual fala sobre hiperssexualização da mulher negra.

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