A disseminação da cultura do estupro na internet
- Equipe Labrys
- 17 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de nov. de 2018
Sabe aquela música famosa que apresenta a mulher meramente como objeto sexual? A cena de novela que mostra violência sexual e romantiza o homem que a praticou? O youtuber famoso que fez piadas de cunho sexista? Essas coisas, aparentemente inofensivas, ajudam a construir o que chamamos de “cultura do estupro”.
A cultura do estupro estimula a crença de que, se a mulher é estuprada, de alguma maneira ela deu motivos. Se não é possível encontrar razões dentro dessa lista de condutas para culpá-la, então assume-se que o agressor tem algum tipo de patologia.
Na internet são encontrados muitos vídeos de homens que propagam a cultura do estupro. Alexandre Frota, em um programa com Rafinha Bastos, encenou o ato contra uma mãe de santo. Em seguida, Everson Zoio conversando com amigos na frente da câmera, alegou atos sexuais com a namorada enquanto ela dormia. Por último, - mas bem distante de finalizar a extensa lista de casos - Bolsonaro desrespeita Maria do Rosário. O vídeo viralizou por causa de sua polêmica frase: “Só não te estupro porque você não merece”.
A impunidade judicial dá mais segurança para que, por trás dos computadores e câmeras, homens continuem a propagar e estimular a cultura do estupro nas redes. Por não existirem leis direcionadas especificamente a esses casos, os criminosos não se preocupam em tomar cuidado ao expor suas ideias machistas escancaradamente. Algumas pessoas se pronunciaram sobre o assunto na frente das câmeras. Leon e Nilce, do canal “Cadê a Chave?”, explicaram um pouco o conceito sobre cultura do estupro, dando exemplos polêmicos da mídia. Já a youtuber Louie Ponto, traz singularidade em seu vídeo explicando de forma didática os problemas de perpetuar esse tipo de prática. Por último, Hana Khalil intensifica o assunto com críticas extremas às atitudes.

O termo, que já circulava por volta de 1970 entre feministas ativistas da segunda onda, ganhou destaque maior após um caso de estupro coletivo, que aconteceu na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Uma garota foi estuprada por cerca de 30 homens dentro de uma casa, filmada e exposta nas redes sociais. As pessoas, em especial as feministas, se mobilizaram nas redes sociais e fora delas para trazer de volta a uso o termo “cultura do estupro” como uma forma de protesto e de trazer informação para as pessoas, já que a consequência punitiva e a repercussão do crime não foi como se esperava. Muitas pessoas - em especial homens - criticaram a garota, como se vestir roupa curta, estar sozinha e “drogada” fossem fatores justificativos para o estupro da vítima.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) traz como debate em sua campanha a violência sexual como uma das formas de violência de gênero. De acordo com pesquisa realizada em 2015 pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 84 municípios brasileiros com mais de 100 mil pessoas, 67% da população tem medo de ser vítima de agressão sexual. O percentual sobe para 90% entre mulheres. 26% dos entrevistados pelo Ipea em pesquisa feita em 2013 e divulgada em 2014 concordam total ou parcialmente com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". No entanto, 58,5% concordam total ou parcialmente com a afirmação que "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveriam menos estupros”.

Para reduzir o sofrimento causado pelo abuso é fundamental responsabilizar apenas os agressores e não culpabilizar a vítima. Também é de suma importância que as pessoas e empresas se mobilizem e criem projetos para ajudar mulheres que já foram violentadas, dar credibilidade e voz para as vítimas.
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